Escrever é algo que
qualquer sujeito alfabetizado consegue fazer. O desafio, contudo, é escrever
bem. Para tanto, é necessário o conhecimento da língua, como ponto de partida,
o que exige o domínio das regras gramaticais e portar bom vocabulário, adquirido mediante o hábito
da leitura frequente, preferencialmente, de obras escritas por bons autores, envolvendo
diversidade temática, pois a cultura é fator de sustentação do comunicador.
Há, em paralelo, outros
elementos indispensáveis para alimentar o interesse do leitor, sendo imperativa
a adequação estilística, pautada na simplicidade, clareza, objetividade,
precisão, organização, concisão, coerência, coesão e, obviamente, correção.
Simplicidade
significa evitar linguagem afetada, expressões arcaicas, rançosas, termos
pomposos e artificiais, como “Mui respeitosamente”, “Com a devida e reiterada
vênia”, “Ouso divergir do ilustre, culto e zeloso membro do Parquet”, etc. Estas
expressões não se harmonizam com o pulsar de nosso tempo, que reclama a atitude
de descomplicar. Em vez de “sodalício”, é mais simples escrever Tribunal; em
vez de “Pretório Excelso”, simplesmente diga Supremo Tribunal Federal ou
simplesmente STF, sua abreviatura; Em vez de Carta Normarum, Constituição é mais inteligível. Para além dessa
inclinação ao erudito dos advogados e demais operadores do direito que se
dirigem ao juiz, vale dizer que o rebuscamento das decisões judiciais também
tem dificultado a aplicação dos comandos da Justiça, tornando a prestação
jurisdicional ainda mais morosa e distante do povo.
Quanto à clareza, leve
em consideração que o texto se dirige aos profissionais de direito, às partes e
à opinião pública, tendo escopo educacional, formando na comunidade uma
consciência jurídica para o cumprimento dos deveres e exercício dos direitos.
Portanto, devem ser evitadas as frases longas, a falta de sistematização das ideias,
a utilização de palavras que já saíram do vocabulário ativo. A linguagem,
dentro do possível, deve ser jornalística, direta a precisa. Devem ser evitados
os neologismos, o arcaísmo ou tentar entender o público como homogêneo em sua
percepção, sob pena de deixarmos de atingir o objetivo principal: a
atenção e o entendimento.
Exige-se, ainda, a
organização da ideia, de forma lógica e encadeada, sem o quê dificultaremos a
compreensão, por violação da unidade linear do pensamento. Cada
parágrafo deve conter apenas uma ideia. Parágrafos longos denunciam confusão
mental e falta de senso lógico.
No tocante à
concisão, deve o texto conter somente as principais ocorrências, os fundamentos
relevantes. E só. Evite inflá-lo com ideias desarticuladas que não se refiram
ao assunto, o que leva ao efeito lateral de desviar o foco.
A coerência é outro
atributo indispensável ao bom escritor. Ser coerente é ser lógico ao trilhar o
raciocínio, é se fazer entender, e, mais, convencer e persuadir, é estabelecer
um nexo entre ideias, harmonizar as frase em um contexto, é equalizar o
ânimo.
Já a coesão é o
poder de conduzir a ideia em um mesmo bloco temático, não mudar drasticamente
de assunto entre os parágrafos, é impor que as palavras, as frases e os
parágrafos estejam entrelaçados, um dando continuidade ao outro.
Para dar precisão à
redação, devem ser utilizadas palavras e expressões adequadas, que definam com
perfeição a ideia que se pretende transmitir, o fato que se pretende narrar. A
precisão não se confunde com tecnicismo, com linguagem hermética. Às vezes é
preciso ser técnico, lembrando que as decisões judiciais devem ser dirigidas
aos jurisdicionados que nem sempre têm o domínio do “juridiquês”. Por outro
lado, o termo técnico, se tem a desvantagem de não ser compreendido por todos,
tem a vantagem de fixar um sentido preciso para a palavra, e todas as ciências
e profissões têm o seu jargão, porém, no direito, isso é mais complicado. Em
resumo a linguagem deve ser clara e acessível.
Por derradeiro, é
fundamental rever sua escrita, buscando correção, eliminando erros gráficos
(materiais). Neste sentido, deve se atentar para os desacertos que
eventualmente possam ter passado despercebidos, ficando atento à concordância,
às regências - verbal e nominal -, à colocação de pronomes, etc. Em se tratando
de linguagem culta, é necessária a observância escorreita das normas
gramaticais. Deve se olhar com atenção a grafia das palavras, sobretudo as
homófonas (cessão, sessão seção), homógrafas (como sede, colher acordo) as parônimas
(infligir e infringir), que nos levam a errar o seu correto uso. Para evitar embaraços,
tenha sempre um bom dicionário por perto. Por fim, procure estudar o uso dos
sinais de pontuação, para evitar ambiguidades e desvios semânticos.
Com base nesses
parâmetros, teremos as ferramentas iniciais para uma escrita interessante. E o
estilo, que é o modo como as pessos usam os recursos linguísticos para se
expressar? Bom este é construído costurando-se cada um dos componentes técnicos
da escrita, associados ao conhecimento do escritor e é único em cada sujeito.
Feito esse
prefácio, lanço-me, de forma articulada e compendiada a apresentar dicas
valiosas para tornar o seu texto elegante e com o apelo essencial à atenção do
seu público alvo. Como o blogue é jurídico, farei as adaptações exigidas para a
escrita nesta área.
1. O
que, quem, quando, onde, como, por quê – Os trabalhos
sobre escrita jornalística sugerem que a notícia deve ser apresentada ao
público, respondendo a este lead, ou seja, a essas perguntas. Bem observada
essa regra, o leitor terá um panorama global dos fatos tratados, sem conceder
dúvida ao que ocorreu no mundo real. É bem verdade que não é um padrão aplicado
na redação jurídica, em que, na maioria das vezes, o texto é argumentativo, embora
tenham o seu valor na narrativa dos fatos e na formatação da peça postulatória,
que deve se orientar sob diversas regras ditadas pela norma processual, senão
vejamos: o “o quê”, o “como” e o “por quê” referem-se aos fatos, à causa de
pedir; o “quem” dirige-se à pertinência subjetiva para integrar a relação de
direito material, também chamada legitimidade; o “quando” é importante para se
delimitar a prescrição, e o “onde” estabelece uma delimitação de competência
territorial. Poderíamos acrescer o “quanto”, como medida quantitativa do
pedido.
2.
Organize um draft sobre o que irá
escrever e depois ordene – Draft é rascunho. Tenha o hábito, quando estruturar uma peça jurídica,
de tomar ciência detalhadamente do caso, já promovendo as anotações marginais,
em memorando, dos principais pontos que serão debatidos, como artigos de leis,
doutrina pertinente, decisões nas Cortes de Justiça e os subsídios derivados
dos fatos em discussão. A ordenação é o passo seguinte. Costumo usar o
silogismo, como técnica de apresentação dos argumentos, oferecendo a lei, a doutrina
e a jurisprudência na frente, como premissa preliminar, os fatos em um segundo
momento, como premissa secundária e, por fim, a conclusão, dedução lógica da
harmonização das duas premissas anteriores.
3.
Reduza o texto objetivamente – Textos grandes
dificultam o aprisionamento da atenção do interlocutor. É necessário que se
aprenda a desbastar toda ideia que não acrescente valor ao texto. Esta tarefa
inclui a supressão de palavras desnecessárias. Facilite o trabalho do juiz e da
contraparte, seja breve, objetivo e direto. Despreocupe-se em esparramar sua
cultura jurídica do assunto, se for desnecessário e não tiver um propósito
específico. Seja pragmático, faça a sua caçada com uma “funda”, e deixe o fuzil
para quando quiser escrever uma monografia ou uma obra literária.
4.
Cheque legitimidade das informações – Muito cuidado com
as credenciais da informação que você apresenta. Utilizar informações inconfiáveis
é um “tiro no pé”. Você passa toda uma vida buscando construir confiança e uma
informação sem base factual poderá dissipar sua autoridade em um breve segundo.
Pesquise, dê sustentação e quilate aos seus argumentos com apoio na verdade! That´s the point.
5.
Informações mais importantes na frente (pirâmide invertida) e o fecho deve ser
impactante – Há escritores que preferem deixar
para o final da frase a ideia de impacto. Outros preferem causar frisson logo no início da frase. De
maneira geral, nos livros sobre escrita, a recomendação é que o essencial venha
na frente, como o carro de boi. Conta-se a estória do fim para o começo,
colocando-se as informações mais importantes logo no primeiro parágrafo. Essa
técnica predispõe o leitor a enfrentar o texto. Contudo, sempre finalize com
uma ideia impactante, para que o leitor sonhe com tudo que escreveu. Esse
estilo, ou técnica, chama-se de pirâmide invertida.
6.
Palavras simples, sem complicações, linguagem clara, informação precisa e
estilo atraente – Use palavras simples, mas evite o
prosaísmo, porque a simplicidade não tem
o mesmo sentido de banalidade. O objetivo é formar o entendimento do
destinatário quanto ao seu trabalho, estabelecendo um canal bidirecional e
harmônico em que o que se fala tem o mesmo sentido do que se compreende. É
tarefa das mais árduas, mas com o treino, você consegue. Portanto,
descomplique, use palavras usuais, corriqueiras, de uso recorrente no seu
público alvo. Violar a regra da simplicidade é como se você entrasse em uma
festa casual trajando um smoking.
Pode ser bonito, mas vai parecer pernóstico, criando isolamento. Sobre o
estilo, construa o seu, com muito cuidado. Procure “explorar” a criatividade,
use metáforas e outras figuras de linguagem – pontualmente - e com moderação,
sem repetir expressões já batidas e sedimentadas no gosto popular. Invente as
suas. Há textos que exigem abstração, e esses símbolos retóricos auxiliam a enfeitá-lo
e despertar o leitor par a sua inteligência.
7.
Toque humano ao texto, como se o leitor estivesse à frente – A
linguagem escrita se distancia da falada, pelo tom, pela maior formalidade e
pela impessoalidade. Ao escrever, crie uma imagem mental de seu leitor. Faça de
conta que ele esteja ali, bem à sua frente. Dirija seu texto da mesma forma com
que você fala com seu interlocutor. Meça as palavras e muito cuidado com as de
baixa densidade, ou seja, com o coloquialismo excessivo. Seja natural,
persevere no esforço de uma comunicação fluida e fácil. O ideal é que fique no
meio termo entre a linguagem formal e a informal, assim, o alcance é bem mais
amplo.
8.
Evite palavras desnecessárias – Essa é a regra de
ouro da escrita e vale para qualquer tipo de texto. Corte o excesso, pode os
exageros verborrágicos, decote a jactância vocabular. Seja direto, sem perder a
linha e a objetividade. Podemos estender esse espírito de contenção às frases.
Não desperdice sentença, quando a ideia nela inserida é vaga , evite-as quando
desconexas e que apenas adensam o texto e o parágrafo, sobretudo, porque servem
apenas para irritar leitores inteligentes, por não exercerem qualquer função
temática. Alguns exemplos podem ser oferecidos, como “Doenças de
características sexuais” dando lugar a “doença sexual”, “Curso em nível
didático” por “livro didático”, etc.
9.
Frases curtas reduz os erros e tornam mais claro o texto – É
muito comum e elementar nos depararmos com petições, de cujos parágrafos são
intermináveis. E o pior, a frase inicia bem e, repentinamente, muda de assunto,
uma duas, várias vezes, para ao final concluir com uma ideia desengajada do
assunto que motivou a sentença (não me refiro aqui à decisão judicial que põe
fim a uma fase processual, mas à própria frase). Faça o seguinte, reduza o
tamanho da oração para dizer o essencial. Se julgar que ela não está completa,
expressando tudo o que quer dizer, produza outra frase em sequência, quantas
forem necessárias para esgotar o tema. Você verá que ficará muito mais
inteligível e clara a ideia que quer apresentar. Proponho o seguinte exercício
para entrar no ritmo: pesquise frases grandes em livros, e depois as decomponha
em tantas outras quanto forem necessárias. Você terá a constatação que ficará
melhor do que o original.
10.
Substitua gerúndio por ponto – O gerúndio é uma
forma verbal que deve ser evitada. Fica feio. Na linguagem coloquial, há
pessoas que gostam de usar a locução verbal “estar fazendo”, sobretudo os
operadores de telemarketing. Jamais use essa expressão. É de péssimo gosto, sem
prejuízo de ser errado sob o ponto de vista gramatical. Às vezes, o gerúndio
funciona como um conectivo para outra oração. Experimente trocá-lo por ponto,
subdividindo a frase em duas. Soa melhor. Por exemplo: “Meu carro costuma apresentar
problemas no freio, podendo provocar situações de risco no trânsito.” Veja como
fica melhor: Meu carro costuma apresentar problemas no freio. Isso provoca
situações de risco no trânsito.
11.
Não use o "já que". Substitua por ponto – A
regra é similar à de cima. Vamos ao exemplo: “Comerei agora, já que a comida
está pronta.” Como ficará: Comerei agora. A comida está pronta. Não é errado o
uso do “já que”, mas não se trata de uma expressão que os escritores costumam
adotar. Você pode usar em lugar dessa expressão o “pois” e o “porque”.
12.
Corte as frases coordenadas e isole as orações – Na
verdade, esses três últimos pontos são especificidades da regra geral de
reduzir o tamanho da frase. Melhora a compreensão, trata-se de fragmentar a oração
longa.
13.
Troque oração adjetiva por adjetivo – Mais uma regra para
economizar palavras. Em vez de Animal que se alimenta de carne, usemos apenas a
palavra “carnívoro”. O objetivo é não entediar o juiz!
14.
Substitua a oração pelo termo nominal – Ok, ok, você está
sendo repetitivo, eu não gosto disso! A finalidade é essa, criar a cultura
reducionista! Portanto, substitua “A comunidade exige que Lalau seja punido”
por “A comunidade exige a punição de Lalau”. Criar esse hábito, no início, é
difícil, mas logo você se acostuma. E sabe o que mais? Você passará a odiar
textos muito longos. Vamos apostar?
15.
Palavras curtas e simples– Buscamos a redução da redação,
não é mesmo? Se podemos cortar palavras desnecessárias, ideias extravagantes,
também é fácil encontrar vocábulos de uso mais frequente para substituir seu
sinônimo mais pomposo. Veja alguns exemplos: somente por só; féretro por
caixão; óbito por morte; morosidade por lentidão e matrimônio por casamento. A
ausência de luxo e rebuscamento implica em elegância, pois atende a todos os
gostos e classes, além de criar rapport,
uma frequência comunicacional fluídica, sincronizando duas pessoas no mesmo
grau de atenção, sem contar que atrai a simpatia do leitor.
16.
Sentenças positivas!!! – A palavra “não” tem uma carga negativa
na comunicação. Desculpem o truísmo, a repetição, o pleonasmo, mas se trata de
uma dedução óbvia. Evite usá-la. Seja assertivo, positivo, seguro, pois é muito
mais contundente, carrega mais energia e ênfase na ideia veiculada. Vamos
tentar? Em vez de “Ele não acredita no
Ministro”, use “Ele duvida do Ministro”. Pronto, qual a melhor alternativa para
fazer crer que o Ministro carece de confiança?
17.
Voz ativa!!! – Esta é uma dica que todos os
livros de escrita apresentam. O sujeito deve praticar a ação, não deve deixar
que a pratiquem por ele. Ele é o protagonista do enredo e por que coadjuvá-lo?
Exemplo? O gato comeu a ração é muito melhor do que a ração foi comida pelo
gato. O agente deve estar no epicentro da ação e deve ser corajoso para se
apresentar na “linha de frente da batalha”.
18.
Termos Específicos – A clareza de suas ideias liga-se à precisão com que você
escolhe as palavras para traduzi-la. Use dicionários e enciclopédias
eletrônicas (ou físicas, se é que ainda existem). Se for escrever sobre economia,
por exemplo, procure entender o significado de certas expressões afetas a este
segmento, como macroeconomia, elasticidade da demanda e outros. Em vez de lutar
com as palavras, traga-as para o seu lado, transforme-as em suas parceiras de
trabalho. Para isso, você terá que se entrosar com os seus sentidos. Se for
imprescindível você usar um vocábulo desconhecido do público em geral, o melhor
a fazer é traduzir o seu significado.
19.
Falar e Dizer não são sinônimos. “Dizer” é
declarar algo importante; Falar é dizer palavras sem compromisso com a
qualidade do que se exprime. Falou com X (o quê, não sabemos!!!), porém disse
que iria aumentar os salários. Sacou? Falar é vago e dizer é preciso!
20.
Acontecer – Essa palavra significa suceder de
repente (inesperadamente). Usar esta palavra para comunicar um fato
qualquer é equivocado e representa uso semântico questionável. Se não for
repentino o fato, use os verbos ocorrer, realizar, haver, suceder, existir,
verificar-se, dar-se, enfim, adapte à sua necessidade, para não “acontecerem”
críticas inesperadas.
21.
Livre-se dos verbos multifacetados – Há verbos que
apresentam uma multiplicidade de significados e se amoldam a muitas situações,
quando você está com preguiça para escolher um melhor, como ocorre com o verbo
inglês “get” que significa quase tudo naquele idioma alienígena. Na dúvida do
verbo a ser usado, mande um “get” que ele deve funcionar, mas se quer escrever
com estilo, livre-se dele. E no vernáculo (nossa língua) quais são esses
vilões? Ok, citaremos os mais comuns: fazer, por, dizer, ter
e ver. Não faça uma fossa; cave uma fossa! Por uma palavra? Melhor acrescentar.
Dizer poemas? Declame-os! Ele tem uma boa reputação. Na verdade, ele goza de
uma boa reputação. Viu a beleza do quadro? Admire-a. Capisce?
22.
Use palavras concretas, menos globais – Há palavras mais
exclusivas para descrever uma situação do que outras. Procure ser menos
genérico, salvo se você tomar medicamentos muitos caros e não tiver
disponibilidade econômica. Brincadeiras à parte, em vez de trabalhador, que é
geral, diga jornalista, operário, lixeiro ou qualquer profissão específica. Se vir um pedestre, refira-se a ele como uma mulher, homem, idoso.
Gonçalves Dias escreveu que na terra dele tinha palmeiras. Falou em árvores?
Garanto que a cena ganha muito mais cor e dinâmica quando detalhamos mais
personagens e cenários. O específico é muito melhor do que o genérico, o
concreto ao abstrato, o definido ao vago. Consiga variedade, propriedade,
riqueza, negue monotonia, vagueza e indigência.
23.
Cuidado com os exageros numéricos – O exagero é uma
figura de linguagem chamado hipérbole. É bastante usado e tem o seu valor
circunstancial reconhecido. Contudo, quando lidamos com números e estatísticas,
cuidado para não calibrar demais a informação. Mostra descuido, negligência. Se
você for superafetado, o juiz vai desconfiar na sua autenticidade, contaminando
sua credibilidade.
24.
Restrinja os adjetivos - Substantivo e adjetivo são
quase inimigos. O adjetivo deve ter a habilidade de especificar melhor o
substantivo, tornando-o menos abrangente, tem que ser frio e objetivo ao
qualificar, despojado da percepção subjetiva, como “meninos estudiosos” (é um
fato) e “mesa redonda” (não há outra forma de enxergá-la). Esquive-se de
atribuir seu conceito pessoal ao objeto, como é o caso de “meninos maravilhosos”,
“mesas modernas”. Seriam, mesmo?
25.
Não use chavões e clichês – Usar clichês é um
hábito dos maus escritores, revela aridez criativa. Chacoalhe a cabeça e tire
dela todas as novidades que você pode construir. Saia da mesmice e não repita o
que todo mundo faz. Saia do comum e invada os domínios da inovação ou você vai
continuar a usar termos como “calorosa recepção”, “fortuna incalculável”, “inflação
galopante”, “perda irreparável”, “sonora vaia”, “vitória esmagadora”?
26.
Finja que no idioma só existam substantivos e verbos – Essa
convicção vai fazer com que você aprisione o adjetivo em uma zona da sua malha
neural inalcançável à memória. Ao evocá-lo, certifique-se que ele esteja
dormindo um sono profundo e jamais seja acordado. Deixe-o ali, e não tente um
habeas corpus para soltá-lo. Outro “inimigo do rei” é o advérbio; e como advogado
adora essa classe! Ele precisa enfatizar, dar energia à sua frase... mas por
desconhecer a boa técnica de comunicação (ou até por preguiça mental), ele
apela para o advérbio. Então, ele passa a ser pródigo no uso dos
“tremendamente”, “absolutamente”, “inegavelmente” e outros. Por que tanta
insegurança? Você acha que o juiz vai se impressionar com a sua “mente”? Que
tal sair da zona de conforto e botar a cabeça para trabalhar? Ele vai se
impressionar é com as provas, o advérbio deve estar concretizado em cada
elemento que você leva aos autos para convencer o juiz, o que deve ser aliar ao
bom argumento da sua petição. Forma tem valor relativo, mais importante é o teor
da mensagem! O conteúdo é superlativo!
27.
Persiga a frase enxuta, eliminando palavras desnecessárias – Já
consignei a necessidade de se privar do uso de advérbios e adjetivos, não é
mesmo? Mas há outros elementos, de cujo uso deve se dar com cuidado e
moderação, como artigos indefinidos,
pronomes possessivos, demonstrativos e indefinidos. Rapazes e moças, cultores
da língua castiça, o que sobra? Resposta: a boa escrita. Exemplos? Fabio espera
(uma) resposta de sua carta; Viu como poupamos nossos olhos?
28.
O possessivo pode levar a confusão da referência na frase. Em
relação aos pronomes, o alerta é necessário por causa da confusão que provocam,
quando há muitos personagens na cena. Nunca se sabe, por exemplo, se um
determinado objeto pertence a algum dos envolvidos pelo posicionamento desses
termos na oração. Vamos ao exemplo: Dilma ensinou Fernando Henrique a usar
alguns recursos de seu celular. Celular de quem, cara pálida, de Dilma ou de
Fernando Henrique? Seria melhor usar o “dele” ou o “dela”.
29.
Seja conciso - Ser conciso difere de ser lacônico, tendo
o sentido de densidade, e não se confunde com o vago, impreciso ou até mesmo
prolixo. Quando se é denso, cada palavra tem valor indispensável à projeção da ideia.
Nos itens seguintes, damos alguns casos mais específicos envolvendo esta
proposição.
30.
Nas datas, dispense as palavras, dia, mês e ano – Em
vez de dizer “No dia 20 do mês de janeiro do ano de 1970”, diga, simplesmente,
“Em 20 de janeiro de 1970”. Viu? Encurtou a sentença e disse a mesmíssima
coisa!
31.
Substitua locução adjetiva por adjetivo – Trata-se de
mais uma técnica voltada para o comedimento linguístico. Em vez de material de
guerra substitua por bélico, pessoa sem discrição por indiscreta, por exemplo.
32.
Troque a oração adjetiva por nome – Que tal trocar a
oração por um nome que traduz o contexto que você quer informar? Elimine “pessoas
que se alimentam de verduras” por vegetariano ou criança que não sabe ler por
analfabeta. Seja sucinto, cause mais impacto!
33.
Corte o "que é" o "que foi" e o "que era" – Trata-se,
aqui, de “passar a foice” nesses conectivos, que pretendem inflacionar a frase
e quebrar a sua harmonia e linearidade. Veja como fica bem melhor. Em vez de
dizer “A população de Washington que
é a capital dos EUA é negra” você deve encher o pulmão e escrever “A população
de Washington, capital dos EUA, é negra”.
34.
Substitua a locução verbo + Substantivo pelo verbo – Aparentemente,
a tarefa de talhar o texto é complicada, mas com treino, passa a ser
automática, você cria o hábito de se autoconter na sua dissertação. Poxa, que
exemplo caberia sobre este ponto? Vamos a eles, então: Em vez de “Fazer uma
viagem”, diga somente “viajar”; Substitua o “Fazer música” por “compor” ou,
para finalizar, elimine o “Por em ordem as ideias” e escreva “ordenar as ideias”.
35.
Busque a frase harmoniosa. O enunciado tem que agradar aos
ouvidos, combinando palavras e alocando-as de forma inteligente na frase,
entrelaçando-as sem tropeços, ecos, intercalações, cacofonias ou repetições. A
frase precisa impressionar bem os ouvidos, produzindo um som agradável, como
uma música harmoniosa. O curto deve vir na frente! Depois alongue. É como a
marcha do carro.
36.
Mistério dos 3!!! Ao pretender dar algum exemplo ou
fazer alguma citação, faça-o usando 3 fatores, como “Cheguei, vi e venci”.
Trata-se de técnica de estilo. Usar dois, quatro ou seis é correto, mas não é
tão harmônico. A exemplificação trinária soa melhor aos ouvidos.
37.
A intercalação de frases longas e curtas quebra a monotonia –
Sabemos que há pessoas com dificuldade de achatar suas frases e parágrafos. Se
for muito difícil, então, procure interpolar frases longas com frases curtas, o
que ajuda – e muito – o cansaço visual de percorrer a longitude textual.
38.
Não inicie as frases do parágrafo ou em parágrafos subsequentes com a mesma
classe gramatical – Talvez seja esta a regra mais
difícil de ser observada, sobretudo, quando há tantas regras a serem seguidas,
não é verdade? Mas há uma forma de você não burlá-la: negrite sempre a primeira
palavra do parágrafo. Depois percorra o texto. Na verdade, não se deve repetir
a mesma classe no parágrafo (ou na frase) subsequente, senão em dado momento
teríamos que parar completamente de escrever por falta de alternativa.
Pessoal, todas as
regras aqui apresentadas foram sugestões tiradas de alguns livros sobre escrita
e na prática de 20 anos como advogado e assessoria de juízes criminal e cível.
Tive apenas o trabalho de compilá-las e apresentar em um formato bem simples e
objetivo, porque o propósito é trazer à luz a técnica usada pelos grandes
escritores. É óbvio que você terá que adaptá-las ao tipo de escrita adequada ao
seu meio ou a finalidade, porque se trata de um padrão o qual, em alguns raros
casos, deve ser evitado, ou seja, a regra não é monolítica, caso contrário
teríamos trabalhos enfadonhos e estereotipados.
Se você tem o hábito
de escrever muito, penitencie-se por isso. É o momento de uma autocrítica e
faça-o de imediato. Com o passar do tempo, seu estilo acaba mudando, quando
você passa a enxergar que, na ponta, o juiz não tem muito tempo e paciência
para ler com atenção a sua petição. Vale um alerta: o desafio não é apenas
escrever pouco, mas também com profundidade. Esse é o “ás na manga” que deve
ser utilizado sempre!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário